Classiqueira - David Bowie - Low

Revolução em Low-FI

O ano de 1977 foi eternizado pelo nascimento concreto do “Punk” (como movimento e estilo musical) e pela popularização da “Disco Music” (através do filme Embalos de Sábado a Noite). Ok, honras para The Clash, Sex Pistols e o süíngue maneiro de John Travolta. No entanto, muitos esquecem-se que entre estes extremos, nasceu Low, uma obra que expandiu os horizontes do rock e consolidou o nome de David Bowie, como uma das figuras mais importantes da década.

Depois de um período em Los Angeles , Bowie decidiu retornar a Inglaterra e pisou no país da pior forma: fez um aceno nazista para os milhares de fãs que o aguardavam no aeroporto. As conseqüências negativas deste ato serviram de pretexto para o artista escolher exilar-se em Berlin. O novo território serviu como impulso para desenvolver as idéias experimentais desenvolvidas no disco Young Americans de 1976, e enterrar de vez os resquícios da excelente fase bicha-performática-dramática do espaço (leia-se os discos Rise and Fall of Ziggy Stardust e Space Oddity ).

Sem querer, Bowie deparou-se com uma decadente capital germânica, reflexo de uma nova era industrial, de auto-destruição e solidão. A capa do disco traduz tão bem quanto a música, o prisma do mundo observado por Bowie e seu desejo explícito de não ser observado. A palavra “Low” está em confluência com o perfil de Bowie, sugerindo o “Low Profile” (expressão inglesa para pessoas que procuram aparecer o menos possível).

Além do cenário, as influências germânicas permearam também o universo musical. A fascinação pelo “Kraut Rock” dos alemães Kraftwerk, enaltecia a paixão pelas novas tecnologias de estúdio. O disco não seria o mesmo sem a presença do produtor e tecladista Brian Eno, escalado para realizar a materialização dos anseios artísticos de Bowie.

Servido como um aperitivo do universo Low, “Speed of Life” inicia uma singela briga entre os sintetizadores e a guitarra. Quando começa a cantar, Bowie cria um cenário visual de paranóia e medo, quase sempre simbolizando um isolamento entre quatro paredes. Mesmo as dançantes “Breaking Glass” e “What In The World”, não escapam deste clima febril. Os segundos iniciais da bela “New Carrer In a New Town”, é um esboço maravilhoso dos caminhos que a eletrônica seguiria décadas depois. Se o disco acabasse nesta metade, teríamos um disco seminal para o rock, indicando novos caminhos, como por exemplo, o Pós-punk e a New Wave. Mas ainda existe o “Lado B”.

A segunda metade do disco contém músicas experimentais e instrumentais, que chegaram a serem descritas como um "deserto futurista congelado por sintetizadores”. As texturas de Brian Eno desenvolveram padrões intensamente plagiados nos anos seguintes e, de bandeja, Bowie criou a fundamentação do Techno Pop (gênero surgido alguns anos mais tarde).

Muitos chamam Bowie de camaleão, por mudar de estilo, usando estéticas como forma de camuflagem. Mas a verdade é que Bowie sempre estava um passo a frente para prever a ação de sua eterna presa: a música.


Nenhum comentário: